quarta-feira, 19 de maio de 2010

Conceitos de cultura e diversidade cultural

Conceito da Cultura

RABUSKE, Edvino A. Antropologia Filosófica – um estudo sistemático. 6a ed. Petrópolis: Vozes, 1995.

Podemos definir:
Cultura é a transformação que o homem, consciente e livremente, realiza na natureza, tanto na própria quanto alheia, visando o aperfeiçoamento desta mesma natureza. A natureza é complexa: no próprio homem e, mais ainda, no mundo que o cerca, engloba, ameaça e sustenta. Por isto, também a cultura é algo complexo.
Mais do que uma definição, que necessariamente é abstrata, importa destacar as características da cultura. Refletindo criticamente sobre os conceitos apresentados, destacamos seis características:
1. Todos os homens tiveram e têm uma cultura. Nunca houve povos “primitivos” no sentido de viver abaixo do limiar da cultura. Portanto, deve-se tomar o termo “cultura” num sentido bem amplo – não restringi-lo à “cultura superior”, com alfabetização, artes, técnica, etc. O homem não vive na imediatidade da natureza, ligado ao meio-ambiente, direcionado por instintos seguros; somente sobrevive, compensando a insegurança instintiva pela criação da cultura.
2. A cultura é produção e produto – é atividade de cultivar e o resultado desta atividade. O homem cria, baseando-se no que já foi criado, num processo histórico interminável.
3. O sujeito da cultura é o homem. Mas o homem, considerado como indivíduo, é também “objeto” da cultura. O indivíduo é inicialmente “objeto” da cultura e, durante toda a sua vida, é mais fruto da cultura do que o seu criador. Mas alguma contribuição para a transformação cultural todos dão, talvez num círculo bem reduzido. Num sentido mais forte, o sujeito da cultura é o povo (a comunidade, sociedade), Mais exatamente, o sujeito da cultura são os indivíduos enquanto membros duma sociedade.
4. A cultura é uma estrutura. Para constituir o “mundo dos homens”, os diversos segmentos da cultura não podem ser separados. Exemplificando: a religião influencia a economia e vice-versa, as ciências e as artes interagem, há uma interdependência entre organização familiar e sistema de produção de bens e serviços. Mas esta estrutura não é rígida – como pretende o Estruturalismo.
A comparação entre as culturas e o estudo da história das culturas mostram que um setor da cultura pode permanecer essencialmente inalterado, enquanto outros setores se transformam profundamente.
5. A cultura tem um centro, pelo menos enquanto é autêntica e florescente. O essencial da cultura é o essencial que o homem visa com a sua atividade. A crise duma cultura resulta do fato de que aquilo que propriamente é meio se torna o fim último. Exemplificando: não é a intenção última da vida humana amontoar riquezas materiais; quando isto ocorre ao nível da mentalidade dum
povo então a sua cultura não oferece mais “um enraizamento e finalidades” (Ricoeur).
6. Há uma pluralidade de culturas. Em princípio, há tantas culturas quantos são os povos. Mas há muitas influências recíprocas, aculturações e “imperialismos da cultura”. No nosso século cresce a universalização de segmentos especialmente vigorosos da cultura ocidental: as ciências e a tecnologia.
A cultura é algo que caracteriza o ser humano como tal.
Pesquisa sobre cultura e verbetes afins.
Auxilia na relação com o interagente em sua rica diversidade.
Cultura
Conjunto de sentidos e significações, de valores e padrões, incorporados e subjacentes aos fenômenos perceptíveis de ação e comunicação da vida de um grupo ou sociedade concreta.
Um conjunto que, consciente ou inconscientemente, é vivido e assumido pelo grupo como expressão própria de sua realidade humana e passa de geração em geração, conservado assim como foi recebido ou transformado efetiva ou pretensamente pelo próprio grupo.
Conjunto das práticas, das técnicas, dos símbolos e dos valores que se devem transmitir às novas gerações para garantir a reprodução de um estado de coexistência social.
Aculturação
Processo de transformações que se verificam numa pessoa ou grupo pelo contato com uma cultura que não é a sua ou pela interação de duas ou mais culturas distintas.
Breakthrough - momento kairológico
Palavra idiomática de língua inglesa, sem adequada tradução nas línguas latinas. Pode ser descrita aproximativamente como uma espécie de somatório, do que se filtra nas expressões: transformação decisiva, salto qualitativo, quebra de barreira, superação de limite, mudança de registro ou paradigma.
É a abertura de enfoques ou intuições novas, nas idéias como na ação, nos métodos como nos processos.
Enculturação
Processo pelo qual uma pessoa é introduzida à sua própria cultura. Sublinha a relação do indivíduo à sua cultura, assim como o termo paralelo - socialização - do vocabulário sociológico e psicológico enfatiza a relação da pessoa no seu contexto social.
Ethos cultural
Modo particular de viver e de habitar eticamente o mundo que uma comunidade histórica tem, enquanto tal, em sua história.
Inculturação
Processo de evangelização pelo qual a vida e a mensagem cristãs são assimiladas por uma cultura, de modo que não somente elas se exprimam com os elementos próprios da cultura em questão, mas se constituíram em um princípio de inspiração, a um tempo norma e força de unificação, que transforma e recria essa cultura.
Processo de evangelização pelo qual se lança numa cultura a semente evangélica de modo que a fé possa nela germinar e desenvolver-se segundo o gênio próprio dessa cultura.
Práxis
Não é sinônimo de prática, de ação, de comportamento. Não é antônimo de teoria. Práxis supõe o conjunto de ação/reflexão pelo qual se manifesta a historicidade da pessoa humana e se empreende a sua realização.
Práxis é uma forma concreta de desempenho histórico. Resulta de uma dupla percepção: a consciência da história, enquanto algo que se faz no tempo: a consciência de que essa história que se faz é resultado da ação dos homens, decorrentes de opções concretas.
Práxis, pois, é o fazer consciente da história. A práxis cristã é a concretização na vida do alcance histórico da fé.
Subcultura
Grupo ou sistema com identidade própria dentro de uma cultura (p. ex., os intelectuais, os operários, os estudantes, os agricultores, as mulheres, os negros etc., dentro e um conjunto cultural específico).
Pode haver afinidades culturais em subculturas de culturas distintas (p. ex., os sentidos, valores, padrões comuns aos jovens, mulheres, negros etc., de culturas diversas).
Transculturação
Possível ou efetiva transferência unilateral e, eventualmente, impositiva, de sentidos e valores, de símbolos, padrões e instituições, de uma cultura específica para outras culturas.
Transculturação, nesta acepção, conota, de algum modo, uma postura etnocêntrica e/ou dominante da cultura emissora, auto-suficiente na consciência da própria superioridade cultural.
A cultura que assim opera, afetando as outras profundamente, tende, contudo, a não se deixar influenciar por elas.
Valores
Referenciais ou critérios de qualificação e apreciação, de aspirações e ideais, de pautas éticas aceitas e reconhecidas por pessoas e culturas, e que orientam os julgamentos, as avaliações e as decisões.
Extraído e adaptado do glossário in
AZEVEDO, M.C. Comunidades Eclesiais de base e inculturação da fé. São Paulo: ed. Loyola 1986. PP. 413-416.
Campus Pedra Branca, 6 de junho de 2001. - Prof. Dr. Jaci Rocha Gonçalves
Etnocentrismo
A palavra foi criada pelo sociólogo americano Willian G. Summer e apareceu pela primeira vez em 1906 em seu livro Folkways. Segundo sua definição “o etnocentrismo é o termo técnico para esta visão das coisas segundo a qual nosso próprio grupo é o centro de todas as coisas e todos os outros grupos são medidos e avaliados em relação a ele [...]. Cada grupo
alimenta seu próprio orgulho e vaidade, considera-se superior, exalta suas próprias divindades e
olha com desprezo as estrangeiras. Cada grupo pensa que seus próprios costumes (Folkways) são
os únicos válidos e se ele observa que outros grupos têm outros costumes, encara-os com
desdém.” (citado por Simon [1993, p.57])
A atitude assim descrita parece bem universal, sob formas diversas segundo as
sociedades. Como escreveu Levi-Strauss, os homens têm sempre dificuldade de encarar a diversidade das culturas como um “fenômeno natural, resultante das relações diretas ou indiretas
entre as sociedades” [1952]. A maioria dos povos chamados de “primitivos” considera que a humanidade acaba em suas fronteiras étnicas ou lingüísticas e é por isso que eles se denominam freqüentemente usando um etnônimo que significa segundo o caso, “os homens”, “os excelentes” ou ainda “os verdadeiros”, em oposição aos estrangeiros que não são reconhecidos como seres humanos completos.
CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru: EDUSC, 1999. p. 46-48.





Identidade Cultural





GLOBALIZAÇÃO E REVALORIZAÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL
Magda Vianna de Souza

“O processo de globalização leva a sociedade a ver o mundo como um só lugar”.
A frase acima é utilizada com freqüência para caracterizar a sociedade contemporânea.
Vista isoladamente, sugere que a sociedade tende a se unificar, anulando as diversidades e as culturas regionais. No entanto, a dinâmica societária traz evidências contrárias.
Autores como Canclini, Castells, Featherstone, Giddens, Hall e Ianni evidenciam, em recentes estudos, que a atual fase da globalização vem provocando reações que buscam uma redescoberta das particularidades, das diferenças e dos localismos.
O processo de globalização estabelece uma nova relação entre as culturas locais e a cultura global. A disseminação da cultura mundializada influencia os padrões de comportamento, provocando uma valorização da tradição e um fortalecimento dos regionalismos manifestos na identidade cultural.
A identidade cultural é vista como uma forma de identidade coletiva característica de um grupo social que partilha as mesmas atitudes e, está apoiada num passado com um ideal coletivo projetado. Ela se fixa como uma construção social estabelecida e faz os indivíduos se sentirem mais próximos e semelhantes.
O processo de revalorização das particularidades e dos localismos culturais é inegável no atual momento histórico social. Ao mesmo tempo em que são incorporados costumes e valores de outras culturas aos hábitos do cotidiano, em todas as latitudes, os localismos voltam a ser valorizados. Há uma busca das particularidades e o senso de diferença se intensifica cada vez mais em todas as regiões do planeta.
O objetivo deste trabalho é examinar as repercussões da globalização sobre a cultura das sociedades, mais especificamente, os efeitos do processo sobre as identidades e as culturas locais.
Para tanto, inicialmente, serão revistas algumas idéias referentes ao processo de globalização da sociedade. A seguir, será realizada análise de suas repercussões sobre formação da identidade cultural. Por último, será examinada a questão do ressurgimento dos localismos e da valorização das tradições culturais através de um estudo de caso em município do Rio Grande do Sul.
Está sendo investigado o processo de recriação e valorização da identidade cultural no município de Nova Petrópolis. Antiga “Colônia Provincial de Nova Petrópolis”, foi fundada, em 1858, por imigrantes alemães. Desde o início da colonização houve preocupação com a questão educacional e cultural. Frente ao descaso da administração provincial com esses aspectos, os imigrantes tomaram para si a organização e administração escolar. Fundaram inúmeras associações religiosas e recreativas, como sociedades de canto, de tiro ao alvo e de bolão, onde cultivavam os costumes de sua região de proveniência, mantendo, inclusive, o uso da língua de origem. Na década de 1940, período da Segunda Guerra, o isolamento cultural da região foi fortemente combatido pelo Estado Novo com uma intensa campanha de nacionalização. Várias escolas, clubes, sociedades recreativas e culturais foram fechados. Só após 1946 houve a retomada das atividades culturais no município.
O predomínio das atividades agrícolas e artesanais manteve-se por mais de um século e, muito contribuiu para que seus habitantes continuassem a manter as tradições e traços culturais de seus ancestrais, restabelecendo o vigor cultural após o período de cerceamento, na segunda metade do século XX. A emancipação do município, no final da década de 1950 , desencadeou mudanças no processo de desenvolvimento econômico social com o incremento de outras atividades como a indústria coureiro-calçadista, malhas, móveis e metalurgia.
Nas últimas décadas do século XX observa-se uma alteração significativa na imagem do município. A antiga tradição agrícola, com a exploração de pequenas propriedades, se mantém, mas, paralelamente novas atividades econômicas começam a ser desenvolvidas e estimuladas. Buscando atrair novos fluxos financeiros e de consumo, o município vem redirecionando seu modelo produtivo através da priorização das atividades vinculadas ao turismo. Essa nova atividade econômica exige uma redescoberta da memória, da tradição e da identidade, pois as particularidades são ingredientes fundamentais na construção de atrativos turísticos. O diferencial da atração turística funda-se na valorização de aspectos vinculados às particularidades locais a cultura baseada nas tradições dos primeiros colonizadores.
Examinar, nesse novo cenário, como a questão da identidade está sendo tratada é de fundamental importância tanto para a sociologia como para a área de educação, pois, a sociedade contemporânea sofre, segundo Stuart Hall (1999), uma “crise de identidade” que resulta das amplas mudanças provocadas pelas novas estruturas sociais que estimulam uma reestruturação ou mesmo reinvenção da identidade cultural.
O presente trabalho busca examinar por meio de um estudo qualitativo, realizado através de entrevistas em profundidade com as elites educacionais e culturais do município, como nesta realidade está sendo enfocada a preservação da identidade e da cultura local e como a sociedade local e, principalmente, o ambiente escolar convive com as tradições no momento em que a globalização da cultura e dos padrões de comportamento é uma tendência mundial. Analisa, também, as formas de preservação e revalorização das tradições culturais, e em especial como os dirigentes educacionais tratam essa problemática, pois, parte-se do pressuposto que é na escola que começa a ser construída a identidade social.





A PALAVRA CULTURA

Cultura provém do latim medieval significando cultivo da terra.
Do verbo latino original COLO que é igual a cultivar, que juntando a cultum, forma a palavra CULTURA, que volto a dizer, no início era relativo ao cultivo da terra.
Sua transformação começa a partir da sabedoria acumulada no trato do ambiente natural e a experiência secular de pastores e agricultores acabaram conferindo ao termo cultura, o sentido de conhecimento intelectual, aplicado à ação transformadora do mundo. Por outro lado, podemos dizer que é a convicção do saber acumulado pela existência do trabalho que produz uma libertação de condicionamento.

ANTROPOLOGICAMENTE sabemos que “a cultura é o conjunto de experiências humanas adquiridas pelo contato social e acumuladas pelos povos através do tempo.

CONCEITOS
Os conceitos que iremos listar nos levarão, quem sabe, por caminhos
diferentes, porém alcançando um fim comum.
Assim vejamos:
Italo Calvino diz “quem somos nós? Quem é cada um de nós senão uma combinatória de experiências, de informações, de leituras e imaginações? Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado
de todas as maneiras”.
Analisando o que disse Calvino, refletimos que na realidade brasileira atual, podemos sim, ser uma biblioteca, mas uma biblioteca de livros editados e na melhor das hipóteses, editados por um único canal de televisão, ou por algumas vozes poderosas de um mesmo rádio, situado num sistema de comunicação a serviço de uma elite dominante.
Um outro conceito nos diz que a cultura é uma expressão simbólica das linguagens, da imensa diversidade que caracteriza o processo e os modos como os povos definem as suas identidades, num contexto, como o nosso, complexo, contraditório, difícil, rico, espelhado pela riqueza do saber popular, afirmamos então, que a cultura é um elemento fundamental de resgate dos valores sem os quais a experiência humana torna-se uma experiência empobrecida e amarga, por isso essa cultura deve ser solidaria, fraterna, igualitária, liberta, justa e que se contraponha à avalanche imposta pelo projeto neoliberal, que como diz o exprefeito petista de Belo Horizonte, Patrus Ananias “reduz o sonho humano a uma conta bancária, uma casinha de praia”.
A cultura vista desta forma, solidaria, fraterna, liberta e justa, é um instrumento de luta permanente da memória, contra o esquecimento, é abrangente, criadora e mantenedora de valores, significados, símbolos, normas, mitos, imagens, etc... presentes nas práticas cotidianas, nas instituições, movimentos, pensamentos, na arte. É uma cultura que penetra nos coletivos humanos e nos indivíduos, dos conceitos de trabalhos as emoções. Com esse sentido ela é o modo de viver, ser, fazer, pensar, sentir, simbolizar e imaginar das sociedades humanas.
Constatamos porém, que com essa diversidade ela é plural e com isso trás diferenças nos significados culturais, mas também cria certas condições que leva uma sociedade inteira a participar dessa mesma criação coletiva, quer seja através da cultura popular, da erudita, da cultura de massa ou da cultura revolucionária para a libertação, expressa através dos ritos religiosos (grandes procissões), espetáculos artísticos, movimentação política ou outros.
Porém cultura não significa tão somente esses momentos ou somente o espetáculo. Como diz Marilena Chauí “Cultura não é simplesmente a arte ou o evento”, não é área ou departamento, não é definida pela economia de mercado, é
na verdade e sobretudo “criação individual e coletiva das obras de arte, do pensamento, dos valores, dos comportamentos e do imaginário.
Expresso isso, não podemos nos limitar a pensar a cultura apenas como manifestação cultural, temos que a pensar como parte da trajetória da raça humana, como a marca deixada do homem e da mulher na história do mundo, pois o ato que gera a cultura é a criação, a invenção, a transformação e trabalhar com a cultura é trabalhar com a revolução do próprio corpo, pensamento, no tempo e no espaço, a todo instante, trabalhando o momento de critica e de construção, de continuidade e percepção, porque a cultura faz com que você se olhe no espelho e se reconheça como o próximo, como o outro, como o diferente, como o igual, como o negro e o branco, trabalhando nas múltiplas possibilidades.

CULTURA POPULAR
Um conceito simples e direto diz que “cultura popular é o conjunto de experiências adquiridas, imaginadas, criadas e recriadas pela maioria, contemplando suas tradições, costumes, modos, valores, crenças, folguedos, expressões artísticas, idéias, ações do cotidiano e conhecimentos”. De uma maioria que é a massa dos trabalhadores, hoje no Brasil, a massa sem emprego, sem teto, sem terra, sem dignidade, sem cidadania. Um enorme contigente, uma pária pura, induzida e enganada pela ideologia dominante, desprovida de bens materiais, com um baixo poder aquisitivo e subordinada pela força do capital. Essa cultura com bandeiras arriadas e estandartes danificados é engolida por uma indústria cultural organizada e repressora a serviço da classe dominante, que quer, a todo custo, impor uma nova ordem, pregando, defendendo e impondo uma cultura comum, globalizada e alienante, que desrespeita a história, a tradição, os mitos e as crenças populares.

CULTURA ERUDITA
Outra cultura em discussão é a chamada erudita. Louis Porcher diz: “Não há duvida de que até uma época recente a arte (vista aqui não como produto, mas sim como cultura), sempre teve na sociedade uma conotação aristocrática, enquanto exercício de lazer e marca registrada da elite”.
É claro que a cultura, hoje dita como erudita, era na verdade a cultura popular de nossos colonizadores. Shakespeare era representado na Inglaterra, para o povo e pelo povo e lá ele era popular, era mestre como é mestre os nossos artesãos, nossos brincantes de reizados, coco-de-roda e de outros folguedos populares (vejam o filme Shakespeare Apaixonado). A comédia Del’Arte era popular no sul da Itália e na França (vejam o filme “Ciranu de Bejerac”), até mesmo no momento em que Molliere assume a sua paternidade e entregue-a a aristocracia francesa; Lopes de Veja era popular na Espanha, na época do teatro de ouro Espanhol; Gil Vicente e seus autos eram popular em Portugal e até recentemente, nesse século que se finda, Garcia Lorca era popular na Espanha com o teatro La Barraca se opondo ao Governo ditatorial e facista de Franco e Bertold Brecht era popular na Alemanha combatendo a força nazista. Essas grandes potências nos colonizaram e nos colonizam até os dias atuais, e se no passado histórico se fecharam em espaços excludentes para ritualizar e perpetuar suas culturas, enquanto os negros dançavam na senzala a capoeira e os índios festejavam suas guerras, caças e deuses da natureza, hoje usam a força dos meios de comunicação e se reúnem nos grandes supermercados culturais, que são as majestosas casas de espetáculos, teatro, casas de shows, arenas de rodeios, financiados e garantidos pelo poder público, restando ao povo, poucos deles por sinal, os sítios, beiras de praias, bairros periféricos, sem apoio, nem moral, para expressar a sua cultura.
Rubem Alves, diante disso diz: “A preservação do índio e sua cultura, a harmonia do homem com a natureza, a salvação das florestas, rios e mares, a recusa a violência, a opção pelo pacifismo – todas essas são causas derrotadas. Elas não tem chance alguma frente ao poder econômico e ao poder das armas”.

CULTURA DE MASSA
Com o surgimento do protestantismo emerge a burguesia. Até esse momento, historicamente tínhamos a cultura erudita e fechada da aristocracia decadente e a cultura popular e aberta do povo.
A burguesia que já tinha sua própria arquitetura, os burgos e sua própria religião o protestantismo, mas que não tinha referencia cultural, começou a construir seu próprio espaço, os grandes teatros, pensando a cultura como mais uma mercadoria que podia aumentar o seu capital e consequentemente o seu poder de força, tirando da cultura o seu caráter lúdico e questionador, mesclando partes do erudito com o popular, roubando do povo suas expressões legitimas, modificando-as a seu bel prazer, tendo como instrumento o avanço da tecnologia e o grau de amplitude dos meios de comunicação de massa, empurrando, goela abaixo do povo, uma nova ordem cultural, uma nova e moderna cultura, uma cultura alienante e sufocante, com cheiro de povo e cara de burguesia, indo buscar os instrumentos no seio do próprio povo, oferecendo-lhes vantagens e riquezas supérfluas, apropriando-se de vez do seu maior bem e herança, transformando o próprio povo, em consumidor desse lixo cultural sem criatividade, sem compromisso, que como carimbo ou produto em série, faz o povo perder a criatividade e passar a ser apenas repetidor de movimentos, de frases indiferentes, de tchans, bundinhas nas garrafas, varrendo vassourinha, humilhando e ridicularizando um povo rico em histórias e tradições.

AÇÃO CULTURAL TRANSFORMADORA
Surge como uma opção de combate a cultura de massa e se realiza como bem expressa Paulo Freire “em oposição as classes dominantes, nascendo do seio da cultura popular negada, sendo permanentemente regida pela análise crítica dos valores, pois essa ação é transformadora e se transforma sempre”...
dizemos até é camaleonica, não sendo nem “slogan” propagandeado pela mídia, como a cultura de massa, nem idealista como a cultura erudita e nem pura e inocente como a cultura popular, mas sendo sim, completa Paulo Freire (...) “uma forma radical e resistente de ser dos seres humanos, pois se expressa de forma consciente e com a necessidade do recriar para resistir”. Esta arte transformadora que se rebela se engaja e se compromete com outros movimentos sociais organizados, quer seja através da poesia, da música, das artes plásticas, do cinema, da dança, da arquitetura, do teatro e de outras formas de expressão, em busca de uma linguagem de fato popular, no âmbito de uma ação cultural emancipatória, ocupa um lugar importante com sua contribuição prática e teórica, para que possa nos dar, com base na cultura popular histórica, novos referenciais e práticas sociais.
Vemos aqui não somente o artista – homem ou mulher – mas sim a arte, a cultura, que atravessa, historicamente os povos e as gerações oprimidas, pois se somos os únicos seres vivos capazes de ouvir, ver, tocar, cheirar, sentir, sorrir, chorar, se emocionar e provocar emoções em outros, se temos esses privilégios porque não podemos nos opor as formas alienantes e escravistas da classe dominante com sua cultura enlatada, sendo empurrada alma a dentro sem nenhum respeito ao legados de nossa história e as nossa origens? A arte e a cultura é bem mais que diversão pura e simples, e deve cumprir a função social, coletiva e mobilizadora de preencher o vazio existencial próprio do ser humano, pois como diz Augusto Boal, ...”só teremos de fato e direito uma cultura popular, quando o povo dominar os meios de comunicação”...
Sabemos que esta é uma conversa sem fim, dinâmica como a própria vida, onde qualquer unanimidade é burra e nenhuma unanimidade é possível. No entanto devemos e temos o direito de saber e reproduzir, que no mundo globalizado que ora se instala e se amplia, só sobreviverão os países onde a cultura seja elemento preponderante de evolução e crescimento e não apenas peças ornamentais e lucrativas de discursos vazios e improdutivos dos dominantes.
Para refrescar o caos e pensar na eternização dos nossos valores,
evocamos Chico Cesar que canta: “O CARNEIRO SACRIFICADO MORRE, O
AMOR MORRE, SÓ A ARTE NÃO”!.
Aracati, 28 de novembro de 1999
Júnio Santos
FONTES PESQUISADAS
Revista Palavra – nº 04 – junho de 1999.
Revista Polis – nº 22 de 1995.Paulo Freire e seu livro “Ação Cultural Para a Liberdade” – 7ª ed









Baseado na leitura dos textos desse módulo, responda:
A cultura é universal ou depende de cada sociedade ?
Cite pelo menos dois tipos culturais e aponte suas diferenças e suas igualdades.
PS: Você deverá responder com argumentos dos textos, ou seja, dois tipos culturais e estabelecer as diferenças e as igualdades entre elas.
OBS:- A resposta só será aceita com elementos culturais retirados dos textos desse módulo, caso contrário, sua tarefa será ZERADA.

Guarulhos 01 de abril de 2010

Na verdade creio que a cultura engloba todo universo e a sociedade em si precisa espelhar-se e mantê-la, pois através dela conhecemos nossos valores, buscamos idéias, mantemos nosso crescimento perante o mundo imenso que vivemos. Apesar de diversos grupos possuírem suas características, cada um escolhe viver da maneira que mais lhe agrada, independente de leis, de acontecimentos históricos, da ideologia que os envolvem, enfim... Mas é algo óbvio que no passado, os grandes inventores que deixaram grandes marcas, precisam ser lembrados e em alguns casos seguidos, pois vieram ao mundo para trazer mudanças, liberdade de expressão, coragem para que possamos nos mexer e criar coisas significativas para o mundo, mesmo com essa grande diversidade de grupos, todos nós seguimos o mesmo caminho e para preservar nossa existência, com toda certeza devemos manter a cultura de nosso povo, tornando nossa mente uma grande biblioteca de conhecimento e reflexão.
A cultura popular busca exatamente manter nossas tradições e costumes, sendo um conjunto de experiências que com o tempo foram adquiridas, imaginadas e criadas, sendo sempre recriadas devido às ações ocorridas no cotidiano. Infelizmente, essa grande maioria em nosso país não possui emprego, cidadania, dignidade e oportunidades para abranger suas vontades de evolução.
São reprimidos pela classe dominante, que quer sempre impor suas ordens, mostrando sua superioridade e controle sobre cada ser humano. Não quer interagir com aspectos diferentes, apenas desrespeitar a história e as crenças populares, defendendo uma cultura comum, globalizada e alienante.
A cultura de massa emerge a burguesia, onde possuíam sua própria cultura, religião denominada protestantismo e seus méritos, onde os avanços tecnológicos junto à amplitude no meio de comunicação favoreciam cada vez mais no aumento de seu capital, seu poder e sua força e aproveitavam para roubar do povo suas expressões legitimas, modificando-as apenas por prazer. Com suas exigências, fez o povo perder sua criatividade, sendo repetidores de movimentos, controlados e ridicularizados, perdendo suas tradições.
Ou seja, quem tem dinheiro, sempre quer mandar e controlar a grande maioria, que sem poder escolher expandir suas idéias e manter a dignidade da sociedade que vivem, são humilhados, esquecidos e poucas vezes ouvidos.

Tamara Rubio Pauletto

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