sexta-feira, 27 de agosto de 2010

VYGOTSKY - Interações Sociais e Desenvolvimento Humano

VYGOTSKY· Nascido em1896 na cidade de Orsha, na Bielo-Rússia; · Família judaica abastada; clima intelectualizado;· Quando jovem, tinha como passatempo colecionar selos, jogar xadrez e trocar correspondências em esperanto;· Educação formal realizada em casa, por tutores particulares;· Aos 15 anos ingressou em colégio particular e realizou os dois últimos anos do curso secundário, formando-se em 1913;· Direito na Universidade de Moscou, formando-se em 1917;· Simultaneamente freqüentou cursos de história, filosofia, psicologia e literatura;· Medicina parte em Moscou e parte em Kharkov.VIDA E OBRA· Atuou como professor e pesquisador nas áreas de psicologia, pedagogia, filosofia, literatura, deficiência física e mental, atuando em diversas instituições de ensino e pesquisa, ao mesmo tempo em que lia, escrevia e dava conferências;· Trabalhou na área da Pedologia (ciência da criança que integra aspectos biológicos, psicológicos e antropológicos);· Casou-se em 1924 com Rosa Smekhova com quem teve duas filhas;· Vygotsky, Luria e Leontiev formaram um grupo de jovens intelectuais da Rússia. Procuravam uma Psicologia que atendesse as idéias do sistema.IDÉIAS BÁSICAS· O cérebro é um sistema aberto, cujo funcionamento são moldados ao longo da história da espécie e do desenvolvimento individual;· O homem transforma-se de biológico em sócio-histórico, num processo em que a cultura é arte essencial da constituição da natureza humana;· Desde o início da vida profissional, procurou o desenvolvimento de uma nova ciência do homem, entregando-se à construção do conhecimento psicológico como se fosse uma causa;· Sua determinação, permitiu que ele convivesse com massacres, a guerra da Rússia contra a Alemanha e a Áustria, pressões políticas, críticas acadêmicas e sua doença;· Morre em 1934 de tuberculose aos 38 anos, doença que enfrentou por quatorze anos.MEDIAÇÃO SIMBÓLICANeste texto vocês conhecerão alguns dos principais conceitos da obra de Vygotsky os quais permitem entender de que forma as relações interpessoais estão diretamente relacionadas ao desenvolvimento humano. Para tanto partiremos do conceito de Mediação. Este conceito é um dos pilares da obra de Vygotsky, o qual por ter nascido em Leningrado, vivido a revolução de 1917 (que unificou a antiga URSS) e ser um estudioso da obra de Marx tem nesse autor sua fonte de inspiração . A influência dos conceitos marxistas se faz presente na obra de Vygostky em vários momentos, sendo justamente por uma analogia ao conceito de instrumento utilizado por Marx para entender a relação homem – mundo que Vygotsky constrói o conceito de mediador.Na teoria de Marx, o homem quando se relaciona com a natureza o faz de uma maneira direta ou indireta. Vejamos por exemplo um homem tentando derrubar uma árvore, ele pode fazê-lo de uma maneira direta, usando a força de seus braços, isto é, sem a ajuda de nenhum instrumento, o que obviamente seria muito custoso, mas esse mesmo homem pode usar um instrumento, por exemplo um serrote ou uma moto-serra, ou qualquer outro que sua cultura tenha produzido. Dizemos então que, a relação desse homem com a natureza está sendo mediada por um instrumento construído com a tecnologia que sua sociedade armazenou durante séculos. A relação desse homem com a árvore deixou de ser direta e passou a ser indireta . Este modelo, presente na obra de Marx, é trazido por Vygotsky para a psicologia para explicar as relações humanas. Vejamos como isto acontece.Vygotsky parte do princípio que nascemos dentro de uma cultura estruturada com valores, crenças, modos de relacionamento, etc. Esta cultura a princípio é externa ao indivíduo, mas no momento em que nasce este bebê já é visto e tratado pelos seus pais e por todos os membros daquele grupo social de acordo com as normas daquela cultura, o que marcará profundamente este novo ser e o transformará em membro daquele grupo. Para exemplificarmos vamos pensar em um bebê que nasça agora no Alto Xingu e em outro que esteja nascendo neste momento em São Paulo, em um hospital freqüentado pela classe média. Obviamente que ao nascer estes bebês biologicamente serão muito parecidos , mas o próprio ato de nascer, o significado do nascimento, os rituais e as expectativas sociais serão bastante diferentes e imprimirão em ambos marcas culturais também muito diferentes.O bebê nascido em São Paulo passará a dormir em um berço dentro de um quarto, muito provavelmente cercado de móbile e alguns brinquedos, enquanto que o nascido no Xingu terá outras experiências tão ricas e válidas como o do bebê nascido em São Paulo, mas isto se dará de acordo com os padrões daquela cultura. Voltando ao “nosso bebê” ele a princípio terá experiências diretas com os objetos que o cercam como por exemplo esticará a mão e tentará pegar um chocalho que está próximo a ele. Dizemos que isto seria uma relação direta: bebê-chocalho; mas nem sempre isto seria possível, em outras ocasiões o objeto estaria longe do seu alcance e ao ver a cena a mãe daria o objeto ao bebê, nesse momento diríamos que a relação foi mediada pela mãe que assistia a cena. A essa relação daríamos o nome de relação indireta.: bebê- mãe- chocalho. Podemos dizer que para Vygotsky há dois tipos de relações: as diretas e as indiretas, isto é , as que usam e as que não utilizam de mediadores. Nas palavras de Oliveira (2006) Mediação em termos genéricos ,é o processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação; a relação deixa de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento. (p. 26).Para Vygotsky as relações podem ser mediadas por instrumentos ou por signos, por exemplo em uma outra situação que o nosso bebê agora mais crescido utilize uma espada de brinquedo para alcançar uma bola que estivesse fora de seu alcance , ele estaria utilizando um instrumento como mediador , mas em um outro momento em que fizesse uma marca na bola para diferenciá-la da bola de seu amigo ele estaria utilizando um signo.O uso de signos é o grande diferencial entre o homem e os demais animais, visto que muitos, como o macaco, podem utilizar instrumentos para alcançar objetos, porém não podem planejar ações e nem utilizar instrumentos se eles estiverem fora de seu campo de ação.Oliveira (2006) coloca que nos seres humanos ao longo da vida os mediadores vão se internalizando e os sistemas simbólicos vão se desenvolvendo de forma a organizar signos em estruturas complexas e articuladas .Mas de que forma a cultura é reconstruída dentro do indivíduo? Se voltarmos ao nosso bebê, vamos encontrá-lo sendo banhado por sua mãe. A princípio o tomar banho não é uma necessidade do bebê.. Ele toma banho diariamente por que em nossa cultura isto é um valor. Após muitos anos de insistência da mãe (mediação externa) a respeito da importância do banho diário, vamos reencontrar nosso bebê , agora transformado em um adolescente que fica “horas “ no banho apesar dos apelos da família e da mídia para economizar água. O que aconteceu com ele? Ele agora tem o banho diário como um valor, a necessidade do banho como um mediador interno. Não é mais necessário que ninguém o lembre dessa necessidade. Isto se tornou algo intrinsecamente necessário em sua vida. Algo fruto de uma relação a princípio interpessoal: mãe-bebê com uso de um mediador externo (a fala da mãe sobre a necessidade do banho), a qual transformou-se numa relação intrapessoal , ele com ele mesmo , cujo mediador está internalizado.REFERÊNCIASMACIEL, I.M. Vygotsky e a construção sócio-histórica do desenvolvimento. In: MACIEL, I.M. (Org.). Psicologia e educação: novos caminhos para a formação. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2001. (p.59-78). OLIVEIRA, M. M. K. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 2006. (p.17-40)VYGOTSKY, L. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

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